quarta-feira, 17 de julho de 2013

Faz anualmente os seus exames médicos? Pensa estar a prevenir futuras doenças? Veja o que este medico diz...

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A esmagadora maioria das pessoas, anualmente vai ao medico, e anualmente faz exames.
A estes exames somam-se os feitos semanalmente na farmácia para verificar este ou aquele valor.
Esta corrida aos exames médicos existe, porque foi criada a ideia de que os exames são sinonimo de prevenção de doenças.
Mas, será?

Devem as doenças serem detetadas o quanto antes, para que haja sucesso no tratamento?
O que pensa sobre isto?
Pensa que todos os médicos estão de acordo e acham que sim? 

Bem, segundo o medico americano H.Gilbert Welch, professor e pesquisador da área de deteção precoce de doenças na Universidade de Dartmouth, a resposta é NÃO.

Dr. Gilbert Welch

 Este medico, escreveu um livro com o titulo de "Overdiagnosed" onde afirma que existe uma epidemia de exames preventivos, ou " screening" como é chamado nos EUA, que coloca mais as pessoas em perigo do que lhes salva a vida.

Ao citar pesquizas, mostra evidencias que muitas pessoas recebem um "sobrediagnostico", e assim são "tratadas" por doenças que nunca chegariam a incomodá-las, mas que ao serem detetadas nos testes preventivos, têm-se que fazer alguma coisa.
Diz:
" A forma mais rápida de ter cancro?
Fazer exames para detetar o cancro.

Leiamos, o que ele diz na seguinte entrevista:

Pergunta: Podem os exames preventivos fazer mal?
Dr. Gilbert: A prevenção tem dois lados. Um é a promoção da saúde   do tipo da que sua avó fazia: "vá brincar, coma frutas, não fume". Mas, quando a prevenção entrou no sistema medico, passou a ser uma procura de coisas erradas em pessoas saudaveis, e chamou-se de deteção precoce de doenças. Isto faz mal. Não estou a dizer que as pessoas nunca devam de ir ao medico quando estão bem, mas a deteção precoce também pode causar danos.

Pergunta: Como pode causar danos?
Dr. Gilbert: Quando procuramos muito algo errado, acabamos por achar, porque quase todos nós temos algo errado. Os médicos não sabem quais as anormalidades que vão ter consequências serias, por isso tratam todas, e todo o tratamento tem efeitos secundários.

Há um conjunto de consequências que podem decorrer de um diagnostico: ansiedade por ouvir que há algo errado, o ter de ir novamente ao medico, o fazer mais exames, os efeitos secundários dos medicamentos, as complicações cirúrgicas e até mesmo a morte.

Pergunta: Os médicos dizem que é essencial detetar o cancro precocemente. Mas, você diz que é perigoso. Não se deve tratar qualquer tumor na sua fase inicial?
Dr. Gilbert: Não. Se formos tratar todos os cancros quando estão começando, vamos tratar todas as pessoas. Todos nós, conforme envelhecemos, temos dentro de nós formas iniciais de cancro. Se investigarmos exaustivamente vamos encontrar cancro na tiroide, mama, próstata em quase todos nós. A resposta não pode ser tratar todas as pessoas, pois assim ninguém mais iria ter tiroide, mamas ou próstata. Cancro de próstata é o símbolo desta questão.

Pergunta: Porquê?
Dr. Gilbert: Há 20 anos, um teste de sangue foi introduzido para detetar cancro de próstata. Vinte anos depois, 1 milhão de americanos foram tratados por causa de um tumor que nunca chegaria a incomoda-los. Esse teste é o PSA ( antígeno prostático especifico).
Muitos homens têm números anormais de PSA; fazem biopsias e em muitos são encontrados cancros microscópicos; fazem tratamento, que pode ser a retirada da próstata ou a radioterapia. Isto leva um terço dos homens a problemas sexuais, urinários ou intestinais. Alguns até morrem na operação.
Não podemos continuar a supor que buscar saúde é procurar doenças.
As pessoas precisam refletir. No caso das mulheres, cada uma tem de decidir se quer fazer mamografia ou não. Temo que a medicina esteja a coagir, a assustar e a incutir culpa nas mulheres para que façam mamografias.

Pergunta: Mas, detetar o cancro de mama precocemente não reduz a mortalidade?
Dr. Gilbert: Não há duvida de que uma mulher que percebe um caroço no peito deve fazer uma mamografia. Isto não é um teste preventivo, é um exame de diagnostico. Claro que os médicos preferem ver uma mulher com um pequeno nodulo no seio do que esperar até que ela desenvolva uma grande massa. A questão não é entre atendimento cedo ou tarde, é procurar doenças em quem não tem nada.

Pergunta: Os critérios de alguns exames estão cada vez mais rígidos, como os valores da tensão e da diabetes. Estamos todos doentes?
Dr. Gilbert: Sim. Somos muito tirânicos sobre saúde, chamos sempre coisas erradas, nos dias de hoje pouquíssimas pessoas são consideradas saudáveis.

Pergunta: Porque existe esta conduta com as pessoas?
Dr. Gilbert: Os médicos recebem mais para fazer mais, o que ajuda a alimentar o circulo vicioso da deteção precoce. É um bom jeito de recrutar mais pacientes, de vender mais remédios ou exames. Nos EUA, há problemas de ordem legal, onde os advogados processam os médicos por falta de diagnostico, mas não há punições para sobrediagnosticos.
E, há muitas pessoas que aceitam fazer todos estes exames de deteção precoce, até porque nunca se diz que há perigo nisso.
Pacientes diagnosticados com cancro de próstata e de mama por deteção precoce têm muito mais risco de serem sobrediagnosticados do que ajudados pelo teste. Quando ouvimos historias de sobreviventes de cancro, na maioria das vezes o paciente acha que sua vida foi salva porque ele fez um exame preventivo.
Pergunta: E, não é verdade?
Dr. Gilbert: Provavelmente ele foi tratado sem ter necessidade disso, mas historias destas criam mais entusiasmo para outras pessoas fazerem mais exames em busca de doenças.

Pergunta: O que fazer para evitar isso?
Dr. Gilbert: Um paciente nunca vai saber se recebeu um sobrediagnostico. Nem o medico sabe. Não é preciso decidir se vai fazer ou não fazer para sempre exames médicos, no entanto é preciso ter um certo ceticismo saudável...porque todos os dias são criados novos testes.

Fonte: Baseado no jornal " A folha de São Paulo".

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